terça-feira, agosto 15, 2006

Desejo!

Desejo é tudo...
sem desejo não existiríamos...
é fogo que alimenta a vida...
arde sem cessar...as vezes edifica...
as vezes mata...
as vezes vivifica...
mas sempre é incombatível...
porque sutil...
apenas muda a máscara...

terça-feira, agosto 01, 2006

Diogo

Diogo tinha os olhos do sofrimento. Um silencioso desespero gritava no seu semblante. Ele tinha os olhos da dor. Quatorze anos roubados em si mesmo. A carência do seu sorriso, de suas maneiras, de seus gestos, de suas palavras, ainda me doem no coração. Sentado na proa daquela embarcação, parecia querer por uns momentos ter o domínio de sua existência que não entendia. Era como se ali pudesse resgatar sua significância e gritar ao mundo que estava vivo, e existia, a despeito da marginalidade que o mundo, a sociedade, eu, você e todos nós o haviam condenado. Naquele momento seu sorriso era de vitória tristonha e silenciosa. Saboreava o vento azul no seu rostinho sujo da poeira da solidão. Quando eu lhe disse que também gostava de sentar naquele lugar, ele imediatamente quiz cedê-lo.
_Não, não! Pode ficar! Eu estou bem, aqui. Não se preocupe, Diogo!
Eu estava de óculos escuros. Ainda bem, pois não queria que ninguém visse meu pranto contido. Quisera eu que meu pranto resolvesse alguma coisa. Imaginava quantos Diogos já passaram por este planeta rude, de tantas diferenças sociais...”No entanto o Senhor atenta para os humildes.” É uma promessa que jamais quero esquecer. Prefiro pensar assim quando vejo as injustiças deste mundo.
_O dono do barco o conhecia da cidade e certamente o deixava passear de vez em quando, concluí em silêncio.
Logo começamos a conversar sobre sua vida ... que vida??!! Desde o momento em que se sentou no banco ao lado do carro, a beira da lagoa a espera da saída do passeio eu o observava... Perguntei-lhe sobre sua família. Ele me disse que sua mãe iria ganhar na tele sena, pois jogava toda semana. Disse-me que estavam de mudança para uma outra cidade e que iria levar sua caixa de engraxar sapatos. Sua mãe lhe disse que naquela tarde precisava conseguir mais seis reais para comprar o gás para casa e que só havia conseguido um real. Sabia que não iria mais vê-lo, mas precisava lhe entregar palavras... era só o que eu tinha...Disse-lhe que a despeito de tudo, do mundo, da vida, das pessoas... que ele não desistisse, aproveitasse as oportunidades que a vida lhe desse para se sentir melhor consigo... Perguntei-lhe se acreditava que não desistindo poderia ser alguém (como se naquele momento não fosse...) Ele disse:_Acredito! Lhe entreguei dez reais para inteirar o gás e ele me disse: _ Deus te dê em dobro... Depois daquele dia nunca mais o ví... Diogo, onde você estiver... continuo torcendo por você...